15 maio 2009

O APÓSTOLO PAULO( I ) - A SUA VIDA

Apresentamos, aqui, uma série de três estudos focalizando a vida,
ministério, prisão e julgamento do apóstolo Paulo, o apóstolo para os gentios.


"Ele era um homem de pequena estatura", afirmam os Atos de Paulo,
escrito apócrifo do segundo século, "parcial-mente calvo, pernas
arqueadas, de compleição robusta, olhos próximos um do outro, e
nariz um tanto curvo."
Se esta descrição merecer crédito, ela fala um bocado mais a respeito
desse homem natural de Tarso, que viveu quase sete décadas cheias de
acontecimentos após o nascimento de Jesus. Ela se encaixaria no registro
do próprio Paulo de um insulto dirigido contra ele em Corinto. "As
cartas, com efeito, dizem, são graves e fortes; mas a presença
pessoal dele é fraca, e a palavra desprezível" (2 Co 10:10).
Sua verdadeira aparência teremos de deixar por conta dos artistas,
pois não sabemos ao certo. Matérias mais importantes, porém,
demandam atenção — o que ele sentia, o que ele ensinava, o que ele
fazia.
Sabemos o que esse homem de Tarso chegou a crer acerca da pessoa e
obra de Cristo, e de outros assuntos cruciais para a fé cristã. As
cartas procedentes de sua pena, preservadas no Novo Testamento, dão
eloqüente testemunho da paixão de suas convicções e do poder de sua
lógica.
Aqui e acolá em suas cartas encontramos pedacinhos de autobiografia.
Também temos, nos Atos dos Apóstolos, um amplo esboço das atividades de
Paulo. Lucas, autor dos Atos, era médico e historiador gentio do
primeiro século.
Assim, enquanto o teólogo tem material suficiente para criar
intérminos debates acerca daquilo em que Paulo acreditava, o
historiador dispõe de parcos registros. Quem se der ao trabalho de
escrever a biografia de Paulo descobrirá lacunas na vida do apóstolo
que só poderão ser preenchidas por conjeturas.
A semelhança de um meteoro brilhante, Paulo lampeja repentinamente
em cena como um adulto numa crise religiosa, resolvida pela
conversão. Desaparece por muitos anos de preparação. Reaparece no
papel de estadista missionário, e durante algum tempo podemos
acompanhar seus movimentos através do horizonte do primeiro século.
Antes de sua morte, ele flameja até entrar nas sombras além do
alcance da vista.

Sua Juventude:
Antes, porém, que possamos entender Paulo, o missionário cristão aos
gentios, é necessário que passemos algum tempo com Saulo de Tarso, o
jovem fariseu. Encontramos em Atos a explicação de Paulo sobre sua
identidade: "Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não
insignificante da Cilícia" (At 21:39). Esta afirmação nos dá o
primeiro fio para tecermos o pano de fundo da vida de Paulo.
A) Da Cidade de Tarso. No primeiro século, Tarso era a principal
cidade da província da Cilícia na parte oriental da Ásia Menor.
Embora localizada cerca de 16 km no interior, a cidade era um
importante porto que dava acesso ao mar por via do rio Cnido, que
passava no meio dela.
Ao norte de Tarso erguiam-se imponentes, cobertas de neve, as
montanhas do Tauro, que forneciam a madeira que constituía um dos
principais artigos de comércio dos mercadores tarsenses. Uma
im­portante estrada romana corria ao norte, fora da cidade e através
de um estreito desfiladeiro nas montanhas, conhecido como "Portas
Cilicianas". Muitas lutas militares antigas foram travadas nesse
passo entre as montanhas.
Tarso era uma cidade de fronteira, um lugar de encontro do Leste e
do Oeste, e uma encruzilhada para o comércio que fluía em ambas as
direções, por terra e por mar. Tarso possuía uma preciosa herança.
Os fatos e as lendas se entremesclavam, tornando seus cidadãos
ferozmente orgulhosos de seu passado.
O general romano Marco Antônio
concedeu-lhe o privilégio de libera
civitas ("cidade livre") em 42 a.C. Por conseguinte, embora fizesse
parte de uma província romana, era autônoma, e não estava sujeita a
pagar tributo a Roma. As tradições democráticas da cidade-estado grega
de longa data estavam estabelecidas no tempo de Paulo.
Nessa cidade cresceu o jovem Saulo. Em seus escritos, encontramos
reflexos de vistas e cenas de Tarso de quando ele era rapaz. Em nítido
contraste com as ilustrações rurais de Jesus, as metáforas de
Paulo têm origem na vida citadina.
O reflexo do sol mediterrânico nos
capacetes e lanças romanos teriam
sido uma visão comum em Tarso durante a infância de Saulo. Talvez
fosse este o fundo histórico para a sua ilustração concernente à
guerra cristã, na qual ele insiste em que "as armas da nossa milícia
não são carnais, e, sim, poderosas em Deus, para destruir
fortalezas" (2 Co 10:4).
Paulo escreve de "naufragar" (1 Tm
1:19), do "oleiro" (Rm 9:21), de
ser conduzido em "triunfo" (2 Co 2:14). Ele compara o
"tabernáculo terrestre" desta vida a um edifício de Deus, casa não
feita por mãos, eterna, nos céus" (2 Co 5:1). Ele toma a palavra
grega para teatro e, com audácia, aplica-a aos apóstolos, dizendo:
"nos tornamos um espetáculo (teatro) ao mundo" (1 Co­ 4:9).
Tais declarações refletem a vida típica da cidade em que Paulo passou
os anos formativos da sua meninice. Assim as vistas e os sons deste
azafamado porto marítimo formam um pano de fundo em face do qual
a vida e o pensamento de Paulo se tornaram mais compreensíveis.
Não é de admirar que ele se referisse a Tarso como "cidade não
insignificante.
Os filósofos de Tarso eram quase
todos estóicos. As idéias estóicas,
embora essencialmente pagãs, produziram alguns dos mais nobres
pensadores do mundo antigo. Atenodoro de Tarso é um esplêndido
exemplo.
Embora Atenodoro tenha morrido no ano 7 d.C., quando Saulo não
passava de um menino pequeno, por muito tempo o seu nome permaneceu
como herói em Tarso. É quase impossível que o jovem Saulo não
tivesse ouvido algo a respeito dele.
Quanto, exatamente, foi o contato que o jovem Saulo teve com esse
mundo da filosofia em Tarso? Não sabemos; ele não no-lo disse. Mas
as marcas da ampla educação e contato com a erudição grega o
acompanham quando homem feito. Ele sabia o suficiente sobre tais
questões para pleitear diante de toda sorte de homens a causa que
ele representava. Também estava cônscio dos perigos das filosofias
religiosas especulativas dos gregos. "Cuidado que ninguém vos venha
a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos
homens... e não segundo Cristo", foi sua advertência à igreja de
Colossos (Cl 2:8).
B) Cidadão Romano. Paulo não era apenas "cidadão de uma cidade não
insignificante", mas também cidadão romano. Isso nos dá ainda outra
pista para o fundo histórico de sua meninice.
Em At 22:24-29 vemos Paulo conversando com um
centurião romano e com um tribuno romano. (Centurião era um militar de
alta patente no exército romano com cem homens sob seu
comando; o tribuno, neste caso, seria
um comandante militar.) Por ordens do tribuno, o centurião estava
prestes a açoitar Paulo. Mas o Apóstolo protestou: "Ser-vos-á
porventura lícito açoitar um cidadão romano, sem estar condenado?"?
(At 22:25). O centurião levou a notícia ao tribuno, que fez mais
inquirições. A ele, Paulo não só afirmou sua cidadania romana mas
explicou como se tornara tal: "Por direito de nascimento" (At
22:28). Isso implica que seu pai fôra cidadão romano.
Podia-se obter a cidadania romana de vários modos. O tribuno, ou
comandante, desta narrativa, declara haver "comprado" sua cidadania por
"grande soma de dinheiro" (At 22:28). No mais das vezes, porém,
a cidadania era uma recompensa por algum serviço de distinção fora
do comum ao Império Romano, ou era concedida quando um escravo
recebia a liberdade.
A cidadania romana era preciosa, pois acarretava direitos e
privilégios especiais como, por exemplo, a isenção de certas formas
de castigo. Um cidadão romano não podia ser açoitado nem
crucificado.
Todavia, o relacionamento dos
judeus com Roma não era de todo feliz.
Raramente os judeus se tornavam cidadãos romanos. Quase todos os
judeus que alcançaram a cidadania moravam fora da Palestina.
C) De Descendência Judaica. Devemos, também, considerar a
ascendência judaica de Paulo e o impacto da fé religiosa de sua
família. Ele se descreve aos cristãos de Filipos como "da linhagem
de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei,
fariseu" (Fp 3:5). Noutra ocasião ele chamou a si próprio de "israelita
"da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim (Rm 11:1).
Dessa forma Paulo pertencia a uma linhagem que remontava ao pai de
seu povo, Abraão. Da tribo de Benjamim saíra o primeiro rei de
Israel, Saul, em consideração ao qual o menino de Tarso fora chamado
Saulo.
A escola da sinagoga ajudava os pais judeus a transmitir a herança
religiosa de Israel aos filhos. O menino começava a ler as
Escrituras com apenas cinco anos de idade. Aos dez, estaria
estudando a Mishna com suas interpretações emaranhadas da Lei. Assim,
ele se aprofundou na história, nos costumes, nas Escrituras e
na língua do seu povo. O vocabulário posterior de Paulo era
fortemente colorido pela linguagem da Septuaginta, a Bíblia dos judeus
helenistas.
Dentre os principais "partidos" dos
judeus, os fariseus eram os mais
estritos.
Estavam decididos a resistir aos esforços de seus
conquistadores romanos de impor-lhes novas crenças e novos estilos
de vida. No primeiro século eles se haviam tornado a "aristocracia
espiritual" de seu povo. Paulo era fariseu, "filho de fariseus" (At
23.6). Podemos estar certos, pois, de que seu preparo religioso
tinha raízes na lealdade aos regulamentos da Lei, conforme a
interpretavam os rabinos. Aos treze anos ele devia assumir
responsabilidade pessoal pela obediência a essa Lei.
Saulo de Tarso passou em Jerusalém sua virilidade "aos pés de
Gamaliel", onde foi instruído "segundo a exatidão da lei..." (At22:3).
Gamaliel era neto de Hillel, um dos maiores rabinos judeus. A
escola de Hilel era a mais liberal das duas principais escolas de
pensamento entre os fariseus. Em Atos 5:33-39 temos um vislumbre de
Gamaliel, descrito como "acatado por todo o povo."
Exigia-se dos estudantes rabínicos que aprendessem um ofício de sorte
que pudessem, mais tarde, ensinar sem tornar-se um ônus para o povo.
Paulo escolheu uma indústria típica de Tarso, fabricar tendas
de tecido de pêlo de cabra. Sua perícia nessa profissão
proporcionou-lhe mais tarde um grande incremento em sua obra
missionária.
Após completar seus estudos com Gamaliel, esse jovem fariseu
provavelmente voltou para sua casa em Tarso onde passou alguns anos. Não
temos evidência de que ele se tenha encontrado com Jesus ou que
o tivesse conhecido durante o ministério do Mestre na terra.
Da pena do próprio Paulo bem como do livro de Atos vem-nos a
informação de que depois ele voltou a Jerusalém e dedicou suas
energias à perseguição dos judeus que seguiam os ensinamentos de
Jesus de Nazaré. Paulo nunca pôde perdoar-se pelo ódio e pela
violência que caracterizaram sua vida durante esses anos. "Porque eu sou
o menor dos apóstolos", escreveu ele mais tarde, "..."pois
persegui a igreja de Deus" (1 Co 15:9). Em outras passagens ele se
denomina "perseguidor da igreja" (Fp 3:6), "como sobremaneira
perseguia eu a igreja de Deus e a devastava" (Gl 1:13).
Uma referência autobiográfica na primeira carta de Paulo a Timóteo
jorra alguma luz sobre a questão de como um homem de consciência tão
sensível pudesse participar dessa violência contra o seu próprio
povo."... noutro tempo era blasfemo e perseguidor e insolente. Mas
obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade"
(1 Tm 1:13). A história da religião está repleta de exemplos de
outros que cometeram o mesmo erro. No mesmo trecho, Paulo refere a si
próprio como "o principal" dos pecadores" (1 T 1:15), sem dúvida
alguma por ter ele perseguido a Cristo e seus seguidores.
D) A Morte de Estevão. Não fôra pelo modo como Estevão morreu (At
7:54-60), o jovem Saulo podia ter deixado a cena do apedrejamento
sem comoção alguma, ele que havia tomado conta das vestes dos
apedrejadores. Teria parecido apenas outra execução legal.
Mas quando Estevão se ajoelhou e as
pedras martirizantes choveram sobre sua cabeça indefesa, ele deu
testemunho da visão de Cristo na glória, e
orou: "Senhor, não lhes imputes este pecado" (Atos 7:60).
Embora essa crise tenha lançado Paulo em sua carreira como caçador
de hereges, é natural supor que as palavras de Estevão tenham
permanecido com ele de sorte que ele se tornou "caçado" também;
—caçado pela consciência.
E) Uma Carreira de Perseguição . Os eventos que se seguiram ao
martírio de Estevão não são agradáveis de ler. A história é narrada num
só fôlego: "Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas e,
arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere" (Atos 8:3).
Há um registro fiel desses fatos no livro "A história dos hebreus"
do historiador Flávio Josefo, testemunha ocular desses momentos.

A Conversão:
A perseguição em Jerusalém na realidade espalhou a
semente da fé. Os crentes se dispersaram e em breve
a nova fé estava sendo pregada por toda a parte (cf. Atos 8:4).
"Respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor" (Atos
9:1), Saulo resolveu que já era tempo de
levar a campanha a algumas das "cidades estrangeiras" nas quais se
abrigaram os discípulos dispersos. O comprido braço do Sinédrio
podia alcançar a mais longínqua sinagoga do império em questões de
religião. Nesse tempo, os seguidores de Cristo ainda eram
considerados como seita herética.
Assim, Saulo partiu para Damasco,
cerca de 240 km distante, provido de credenciais que
lhe dariam autoridade para, encontrando os "que eram
do caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos para
Jerusalém" (Atos 9:2).
Que é que se passava na mente de Saulo durante a viagem, dia após
dia, no pó da estrada e sob o calor escaldante do sol? A
auto-revelação intensamente pessoal de Romanos 7:7-13 pode dar-nos
uma pista. Vemos aqui a luta de um homem consciencioso para
encontrar paz mediante a observância de todas as pormenorizadas
ramificações da Lei.
Isso o libertou? A resposta de Paulo, baseada em sua experiência,
foi negativa. Pelo contrário, tornou-se um peso e uma tensão
intoleráveis. A influência do ambiente helertístico de Tarso não deve
ser menosprezada ao tentarmos encontrar o motivo da frustração
interior de Saulo. Depois de seu retorno a Jerusalém, ele deve ter
achado irritante o rígido farisaísmo, muito embora professasse
aceitá-lo de todo o coração. Ele havia respirado ar mais livre
durante a maior parte de sua vida, e não poderia renunciar à liberdade a
que estava acostumado.
Contudo, era de natureza espiritual o motivo mais profundo de sua
tristeza. Ele tentara guardar a Lei, mas descobrira que não poderia
fazê-lo em virtude de sua natureza pecaminosa decaída. De que modo,
pois, poderia ele ser reto para com Deus?
Com Damasco à vista, aconteceu uma coisa momentosa. Num lampejo
cegante, Paulo se viu despido de todo o orgulho e presunção, como
perseguidor do Messias de Deus e do seu povo. Estevão estivera
certo, e ele errado. Em face do Cristo vivo, Saulo capitulou. Ele
ouviu uma voz que dizia: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues;...
levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer"
(At 9:5-6). E Saulo obedeceu.
Durante sua estada na cidade,
"Esteve três dias sem ver, durante os
quais nada comeu nem bebeu" (Atos 9:9). Um discípulo residente em
Damasco, por nome Ananias, tornou-se amigo e conselheiro, um homem
que não teve receio de crer que a conversão de Paulo' fôra
autêntica. Mediante as orações de Ananias, Deus restaurou a vista a Paulo.

1 comentários:

Unknown on 27 de junho de 2018 às 14:00 disse...

Bom podia tem mais

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