Cleópatra, a poderosa rainha do Egito, que reinou há mais de dois mil
anos, se matou enroscando-se numa serpente ou foi assassinada? Ela era
mesmo muito bonita ou tudo não passou de um mito e era bem feiosinha?
Tinha ascendência africana ou era descendente do povo persa.
São tantas perguntas. As respostas serão, enfim, descobertas, porque o
mais importante arqueólogo do Egito acredita que localizou o túmulo de
Cleópatra.
De uma hora pra outra, os olhos do mundo se voltaram para o Templo de
Abusir, no alto de uma colina, no Deserto do Saara. Cientistas acreditam
que está enterrado lá o tesouro mais procurado pela arqueologia mundial:
a tumba de Cleópatra e do general romano Marco Antônio.
Em um mundo machista, Cleópatra reinou como nenhum homem. Historiadores
falam de sua beleza, inteligência e capacidade ímpar de seduzir. Mas a
imagem que o mundo moderno tem da eterna rainha do Egito é a criada pelo
cinema, com o rosto de Elizabeth Taylor.
Cleópatra foi a mulher de dois dos homens mais importantes da sua era.
Apaixonado, Júlio César providenciou para que ela assumisse o trono do
Egito sozinha. Ela se tornava a mulher mais poderosa do planeta.
Com o assassinato de Júlio César em pleno Senado romano, dirigiu seu
charme para o general Marco Antônio. Ele convenceu a esposa a montar um
dos maiores exércitos do mundo antigo para vencer o Império Romano, mas
a guerra foi perdida no mar.
Ao pensar que Cleópatra havia morrido, Marco Antônio cometeu suicídio
com a própria espada. Ela, ao ver o marido morto, usou uma serpente para
se matar também. Antes pediu para ser enterrada num local secreto. Há
quinze anos, a arqueóloga dominicana Kathlen Martinez se dedica a
descobrir esse lugar. De escavação em escavação, ela chegou à Colina de
Taposíris.
A arqueologia sempre dependeu de paciência, de determinação, de pesquisa
e, sobretudo, de muita sorte - aliás, considerada uma das principais
"ferramentas" dos arqueólogos. Mas isso quando não existiam satélites e
radares, tecnologia que foi esbanjada nas escavações em um templo e que
permitiu a descoberta de tumbas.
Já se sabe que existe um emaranhado de túneis e passagens secretas que
interligam as tumbas. Isso torna Abusir um templo único no Egito.
Segundo os arqueólogos, trata-se possivelmente da chave de um grande
mistério. Os olhos biônicos dos satélites mapearam todos os cemitérios e
templos ao redor de Alexandria. Radares foram introduzidos na terra para
detectar possíveis espaços ocos.
Assim surgiram os indícios da tumba de Cleópatra: moedas com a imagem da
rainha; corpos de sacerdotes em posição fetal, típico dos que cometiam
suicídio logo depois de enterrar seus amos. Era uma forma de manter o
segredo sobre as tumbas, principalmente dos monarcas.
Por fim, veio a descoberta de um cemitério a menos de um quilômetro do
velho templo. No Egito antigo, os cemitérios dos mortais comuns ficavam
sempre próximos da tumba de um rei ou rainha. A doutora Kethlen mostra
as marcas dos pontos que ainda serão escavados, de acordo com a
orientação dos radares. "Em algum lugar aqui embaixo pode estar o que
procuramos", diz ela.
O secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, Zahi
Hawass, acompanha o trabalho dos arqueólogos há mais de 40 anos. Ele diz
que nada, nenhuma descoberta já feita no Egito, se compara a essa que,
na opinião dele, está prestes a acontecer.
"Saber, de fato, como Cleópatra era, com que tesouros foi enterrada,
como viveu e morreu, poder comprovar a história, desmistificar o que é
lenda... Este lugar pode nos dar tudo isso", explica Zahi Hawass.
Mas, em meio à empolgação toda, Hawass para de falar, pensa e faz uma
ressalva: "Por mais que se descubra sua tumba, Cleópatra sempre manterá
ao redor de si uma aura de mistério".
Isso significa que arqueólogos, historiadores ou simples curiosos, todos
vão sempre continuar escavando a imaginação e as areias do Saaara para
tentar desvendar esse mito.
A Bíblia teria autores falsos?
De vez em quando a mídia popular traz à tona assuntos há muito debatidos entre teólogos e historiadores, alguns dos quais já
foram até resolvidos. Agora foi a vez de o site G1 polemizar com a
matéria "Livros bíblicos podem ter autoria falsa", "afirmam
especialistas. A matéria começa assim: "Trito-Isaías? Deutero-Zacarias?
Epístolas Pastorais? A nomenclatura é complicada, mas se refere a um
fato (fato?) simples e, para as sensibilidades modernas, um tanto
embaraçoso: é praticamente certo (não era "fato"?) que os autores
presumidos de uma série de livros bíblicos não sejam bem quem eles dizem
ser. A chamada pseudoepigrafia, ou seja, o uso de uma identidade mais
famosa e antiga para embasar a autoria de um novo texto, é um fenômeno
relativamente comum no Antigo e no Novo Testamento.
Basta dizer que o livro do profeta Isaías provavelmente foi escrito por
três (ou mais) autores (o Isaías histórico, o Deutero-Isaías e o
Trito-Isaías); que cerca de metade das cartas de São Paulo tenham sua
origem colocada sob suspeita por estudiosos atuais (sim, os liberais); e
que nenhuma das chamadas cartas de São Pedro, também no Novo Testamento,
possa ser atribuída a ele com segurança.
Sem entrar em detalhes sobre os pormenores da matéria (muitos volumes já
foram escritos sobre cada aspecto dessa discussão), gostaria apenas de
dizer que foi apenas em 1920 que surgiu a idéia do "trino Isaías" ou
"trito-Isaías", por causa das diferenças no estilo literário. Assim, o
"Proto" abrangeria os capítulos 1 a 39, o "Dêutero" os capítulos 40 a
55 e o "Trino" os capítulos 56 a 66.
A despeito disso, há muitas evidências de unidade no livro de Isaías.
Por exemplo:
1. Deve-se considerar o caráter tradicional. Os judeus nunca colocaram
em cheque a autoria do livro.
2. Uso de expressões próprias (#Santo de Israel# aparece 12 vezes nos
capítulos 1 a 39 e 13 vezes do 40 ao 66. No restante do Antigo
Testamento (AT) aparece apenas seis vezes. O Poderoso de Israel# aparece
em Isaías 1:24 e no #Deutero# 49:26 [#Poderoso de Jacó#]).
3. Semelhança nos estilos
4. Tema geral: salvação do povo de Deus
5. Testemunho de Jesus (Mt 13:14, 15 # Is 6:9; Mt 12:17-19 # Is 42,
"Deutero"). Se houvesse dois Isaías, Jesus mencionaria isso. Mas Ele
menciona Isaías como sendo um único livro.
6. Nos Manuscritos do Mar Morto o livro de Isaías foi descoberto
integralmente, em dois rolos, mas não dividido, como propõem os
defensores dos dois ou três Isaías.
No mais, a matéria do G1 segue o esquema usual nesse tipo de reportagem:
entrevistam poucos especialistas (no caso dessa matéria,
especificamente, ficam apenas com Bart D. Ehrman, quando o assunto é
Novo Testamento), geralmente liberais que duvidam da inspiração do texto
bíblico.
Ehrman gosta de destacar as #contradições# da Bíblia. Lembro-me de ter
lido a respeito disso um tempo atrás e quero apresentar aqui três dessas
supostas contradições que podem, com alguma disposição e boa vontade,
serem harmonizadas.
Segundo o doutor em Teologia Ozeas Caldas Moura, #de vez em quando
aparece algum escritor sensacionalista abordando pretensas contradições
na Bíblia ou questionando aspectos da vida de Cristo e de outros
personagens bíblicos#. E ele explica as três #contradições# de Ehrman:
1. Marcos 15:25 e João 19:14. O texto de Marcos 15:25 diz: "Era a hora
terceira (9 horas) quando o crucificaram"." No grego, está assim: "Era a
hora terceira, e o crucificaram". O problema é que traduziram a
conjunção aditiva kai (e) como um advérbio de tempo quando (o que
complica o entendimento do verso). A explicação para Marcos 15:25 é que
(1) houve um erro do copista (em vez de hora #sexta#, como está em João
19:14, o copista colocou hora #terceira#), ou (2) Marcos está falando
sobre o processo da crucificação como um todo, ou seja, desde que Jesus
apanha dos soldados, carrega a cruz em direção ao Gólgota e é finalmente
cravado nela. Assim, o açoitamento de Jesus, os murros recebidos e a
zombaria sofrida teriam começado por volta da hora #terceira# (9 h da
manhã). Ao meio-dia (hora sexta = 12h), Jesus teve as mãos cravadas na
cruz (conforme o relato de João, que fala desse momento específico e não
de todo o processo).
2. Lucas 2:39 e Mateus 2:19, 22. O texto de Lucas menciona que após o
nascimento de Jesus em Belém, Seus pais O levaram ao Templo, em
Jerusalém. Lá Ele foi circuncidado e, após isso, voltaram para Nazaré.
Lucas omite a fuga para o Egito. Já Mateus fala que antes de Herodes
mandar matar as crianças de Belém, um anjo avisou José e pediu-lhe que
fugisse para o Egito com Maria e o menino Jesus. Olhando
superficialmente o texto de Mateus, parece que tão logo Jesus nasceu,
José e família fugiram para o Egito. Mas não foi assim. Lucas e Mateus
se completam. Foi após a volta para Nazaré que houve a fuga para o Egito
(Herodes talvez pensasse que Jesus ainda estivesse em Belém. Daí ter
mandado matar os meninos dessa cidade #de dois anos para baixo# (Mt2:16).
Dois anos é tempo suficiente para Jesus ter nascido, ter sido
levado ao Templo em Jerusalém para ser circuncidado e Ele e família
terem fugido para o Egito.
3. Gálatas 1:16, 17 e Atos 9:26. Gálatas menciona Paulo dizendo que #nem
subi a Jerusalém, para os que já eram apóstolos# (mas isso tão logo se
converteu, no caminho para Damasco). Já Atos 9:26 fala que Paulo foi a
Jerusalém e #procurou juntar-se com os discípulos#. O texto de Gálatas
1:18 esclarece a questão: #decorridos três anos# (após sua conversão),
Paulo foi a Jerusalém. Portanto, não há contradição entre os textos.