30 março 2009

Pérolas

Nós sabemos da dificuldade da nossa língua, principalmente quando se trata de escrevê-la. Irei publicar algumas pérolas em que foram escritas no vestibular e em um livro muito famoso, O Alquimista, de Paulo Coelho.

 

Vestibular:

·                                 O nervo ótico transmite idéias luminosas.

·                                 O vento é uma imensa quantidade de ar.

·                                 Os egípcios antigos desenvolveram a arte funerária para que os mortos pudessem viver melhor.

·                                 As aves têm na boca um dente chamado bico.

·                                 O coração é o único órgão que não deixa de funcionar 24 horas por dia.

·                                 A insônia consiste em dormir ao contrário.

·                                 Sobrevivência de um aborto vivo (título).

·                                 O Brasil é um país abastardo com um futuro promissório.

·                                 O maior matrimônio do país é a Educação.

·                                 Os analfabetos nunca tiveram chance de voltar à escola.

·                                 Tiradentes, depois de morto, foi decapitulado.

·                                 Resposta a uma pergunta: "Não cei".

·                                 A História se divide em 4: Antiga, Média, Moderna e Momentânea (esta, a dos nossos dias).

·                                 A capital de Portugal é Luiz Boa.

·                                 O Brasil é um país muito aguado pela chuva.

·                                 Na América Central há países como a República do Minicana.

·                                 O fidibeque é a mesma coisa que a retroinformação, ou seja a informação que vem por trás.

O Alquimista:

1. "Lembrou-se da espada — foi um preço caro contemplá-la um pouco, mas também nunca tinha visto algo igual antes." (Pág. 71) 

Preço caro é erro indecoroso. Caro já significa de preço elevado. O correto é dizer que o produto está caro ou o preço está alto, exagerado, excessivo (o que não é nenhuma novidade hoje em dia). 

2. " 
Haviam certas ovelhas, porém, que demoravam um pouco para levantar . " (Pág. 22)
Não há registro, em nossa literatura, de nenhum outro escritor que tenha empregado haver no plural, com o sentido de existir . Não se pode atribuir a culpa ao revisor, uma vez que esse modelo de concordância aparece mais de dez vezes em todo o livro. 

Demorar , no sentido de tardar, custar , usa-se com a, e não com para: Demorou a retornar à casa dos pais . 

Levantar é sinônimo de erguer; levantar-se é que significa pôr-se de pé. 

3. "O teto tinha despencado 
 muito tempo, e um enorme sicômoro havia crescido no local que antes abrigava a sacristia." (Pág. 21)
" Fazia aquilo 
 anos, e já sabia o horário de cada pessoa." (Pág. 76) 

Definitivamente o verbo haver é uma enorme pedra no sapato do nosso alquimista. Quando o verbo haver é usado com outro no tempo imperfeito (ou mais-que-perfeito), emprega-se havia , e não há : "Quando você chegou, eu já estava na sala havia cinco minutos". (Arnaldo Niskier)

4. "E quero que 
saiba que vou voltar. Eu te amo porque..." (Pág. 189) 

Fazer alquimia com as pessoas de tratamento, parece ser a diversão preferida de Paulo Coelho.

O próximo exemplo é ainda mais dramático: 

5."— Eu 
te amo porque tive um sonho... Eu te amo porque todo o Universo conspirou para que eu chegasse até você ." (Pág. 190) 

Sei que é covardia comparar PC com um dos clássicos de nossa literatura. Mas confesso que não resisti à tentação. Compare este trecho de Machado de Assis, extraído de Dom Casmurro: "Aqui tendes a partitura, escutai-a, emendai-a, fazei-a executar, e se a achardes digna das alturas, admiti-me com ela a vossos pés..." 

6. "Por isso costumava às vezes ler... ou 
comentar sobre as últimas novidades que via nas cidades por onde costumava passar." (Pág. 22) 

Não se diz comentar sobre alguma coisa , mas sim comentar alguma coisa: "Todos comentavam o desastre." (Aurélio)
Dizer últimas novidades é chover no molhado. Novidade já pressupõe algo novo ou acontecimento recente. Não vou dizer que a expressão às vezes deveria estar entre virgulas, para não me tacharem de ranzinza
. 

Veja outros deslizes semelhantes: 

"O pastor contou dos campos de Andaluzia, das 
últimas novidades que viu nas cidades onde visitara." (Pág.24)
" A gente sempre acaba fazendo 
amigos novos , e não precisa ficar com eles dia após dia."(Pág. 40)
"O alquimista 
enfiou a mão dentro do buraco , e depois enfiou o braço até o ombro." (Pág. 184) 

Últimas novidades... fazer amigos novos.. . enfiar dentro... Por que será que os alquimistas gostam de fazer isso com a gente? Por quê?! 

7. " Todos os dias o rapaz ia 
para o poço esperar Fátima." (Pág. 157) 

A preposição a indica deslocamento rápido, provisório; para, permanência definitiva: Quem vai à praia vai passear; quem vai para o litoral vai morar lá. 

8. "Depois de 
vencidos os obstáculos, ele voltava de novo..." (Pág.113) 

Obstáculos não se vencem; superam-se. Os desafios é que são vencidos. 

9. " Assim que 
sentaram na única mesa existente, o Mercador de Cristais sorriu." (Pág. 78) 

Sentar na mesa deve ser muito engraçado mesmo. Os alquimistas, assim como os políticos, talvez tenham por hábito sentar na mesa. Pessoas normais, contudo, sentam-se à mesa. 

10. "— Podemos chegar amanhã 
nas Pirâmides..." (Pág. 66)
"O rapaz se aproximou de uma mulher que havia chegado 
no poço..." (Pág. 150)
"Chegou 
na pequena igreja... quando já estava quase anoitecendo." (Pág. 245) 

Chegar em um lugar é regência dominante na fala brasileira e é encontradiça em alguns escritores medíocres ou sem muita expressão no meio literário, salvo raríssimas exceções.
Verbos de movimento exigem a , e não em: Chega-se sempre, e bem, a algum lugar. O único caso em que se pode empregar em com chegar é na referência a tempo: chegar em cima da hora .
É muito comum a expressão chegar em casa. Os escritores de boa nota, contudo, preferem chegar a casa: "Ao chegar a casa, Tavares encontrou a irmã preocupada". (Dias Gomes)

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