Li, há pouco tempo, um artigo sobre uma reunião do mundo "gospel" onde
empresários do ramo defendiam as suas idéias sobre a conquista do
mercado musical. Segundo o artigo, a reunião durou uma hora e meia, mas
depois de dez minutos a vontade do autor da matéria era sair correndo,
enojado com o que estava ouvindo. Falou-se de tudo em termos de
"negócios gospel". Como atingir o mercado, como produzir produtos
mais atraentes, como vender o público "gospel" para as empresas
seculares, como oferecer vantagens aos pastores para que eles
permitissem que os produtos fossem vendidos nas igrejas, como montar
shows e espetáculos, e vai por aí afora.
Em momento algum, afirmou ele, ouvi algo sobre: como vamos causar um
impacto com o evangelho no Brasil e no mundo; quantos novos missionários
vamos sustentar com o lucro do negócio "gospel"; o que vamos fazer
para ajudar as igrejas a buscarem um avivamento; como vamos tornar Jesus
conhecido. A reunião foi frustrante para aquele cidadão que pensava ser
o "gospel" algo mais profundo, alguma coisa que de fato fosse mudar
os conceitos de cristianismo neste nosso tempo.
Quando não éramos o mercado "gospel", comprávamos Bíblias para ler e
estudar, e não para colecionar. Comprávamos CDs pela profundidade das
letras e espiritualidade dos cantores, e não pela fama dos artistas.
Abríamos novas igrejas para alcançar os que não conheciam a JESUS, e não
por causa de uma nova "visão" que causou divisão. Cada pastor
estudava a Bíblia e ouvia o Espírito Santo para pregar a cada semana, e
não simplesmente reproduzia a mensagem pronta recebida do seu "bispo
ou apóstolo".
No tempo em que não éramos "gospel", pastor ainda era respeitado e
podia comprar no crediário. Não tínhamos bancada evangélica na política,
que, segundo a imprensa, só gera escândalos. Não precisávamos de prêmios
para artistas e escritores de sucesso ou para igrejas que se tornaram
famosas. Não tínhamos concorrência entre artistas na busca de um troféu
de "Disco de Ouro" por vendagem de discos; não tínhamos a
proliferação de "Rádios Piratas" usadas para a divulgação do gênero
"gospel" e suas atividades.
No tempo em que não éramos "gospel", o "show" ainda se chamava
"louvorzão," não cobrava ingresso e não precisava de camarote vip
para os artistas. Não se gastava fortunas para a montagem de palcos para
a realização de espetáculos. Não se usava maquiadores, pois nem havia
camarins. Não precisava reservar hotel "cinco estrelas" para as
estrelas do palco. Não se usava jogo de luz, porque a luz que brilhava
era a do verdadeiro louvor. Entrevistas e autógrafos sequer eram
mencionados pelos que participavam das atividades relacionadas a vida
cristã. Os adoradores não precisavam de seguranças, pois estavam seguros
no Mestre, não tinham uma agenda de "shows." Não havia Hip-Hop;
Street Dance; Grupos de Teatro; Pagode; Samba; Rap; Funk. Como diz um
amigo meu: "e pensar que tudo começou com um jumentinho! Lá em
Jerusalém." Conseguimos transformar Jesus em "gospel",
"fashion" e "pós-moderno", mas ainda não conseguimos traduzir a
Bíblia para todas as línguas em que ela não existe, nem reverter a
corrupção neste país, nem causar um impacto transformador na sociedade.
Naquele tempo o objetivo único era a adoração e o testemunho da graça e
do amor de Deus. Hoje o jumentinho foi esquecido e em muitos casos foi
trocado por uma tal "Eguinha Pocotó". Isto sem nenhum exagero.
Hoje os resultados da indústria "gospel" mostram gráficos cada vez
mais animadores para os empresários. Qualquer um, em qualquer lugar e
usando a religião como instrumento de propaganda passou a ser "Cantor
Gospel". O mercado da fé ampliou suas fronteiras sem observar o
principio basilar do cristianismo que é a ética cristã. O que se vê hoje
é a lei do vale tudo em nome de Deus, mesmo que para isto o nome DEle
seja explorado no comércio da fé. No entanto, no tempo em que não éramos
"gospel", os resultados para o Reino eram mais consistentes. Nesta
era "gospel" nos orgulhamos de ter milhares de igrejas e milhões de
crentes, mas não nos envergonhamos da "corrupção gospel". No passado
éramos adoradores, hoje somos consumidores de todo o tipo do que se
intitula música no meio evangélico. Levamos para dentro de nossas
igrejas qualquer coisa que faça o povão entrar em transe e se soltar nas
nossas reuniões. A inspiração Divina pouco importa, o que manda é não
deixar o espetáculo parar.
Orgulhamo-nos por alcançar os mais longínquos lugares e de estarmos no
rádio e na TV, mas não nos envergonhamos por termos diminuído o número
de missionários no Brasil e no mundo. Orgulhamo-nos de sermos
governantes nos mais diversos níveis da política ou de estarmos mais
próximos aos dirigentes de nossa nação para orar com eles, mas não nos
envergonhamos de que um avivamento ainda não aconteceu em nossa pátria
por falta de oração e quebrantamento da nossa parte. Alguém pode dizer
que tudo isto é saudosismo. Éramos cristãos, hoje somos meros
freqüentadores de casas de espetáculos onde quem determina o roteiro e
as regras do show é o mundo com as mais absurdas ofertas de sucesso.
Aliás, o sucesso é a cachaça que embriaga os que freqüentam o mundo
"gospel" onde não faltam orgulho, vaidade, exibicionismo como
conseqüências da ingestão da tal bebida.
Eu me considero um futurista, sem qualquer dificuldade para quebrar os
tradicionalismos do passado. No entanto, eu penso e analiso gerações.
E quando faço isto e tiro conclusões, eu vejo que a igreja evangélica
brasileira se tornou grande e obesa como um elefante, mas sem agilidade
para provocar transformações. Os transatlânticos estão ancorados em
todas as esquinas com espetáculos que enchem os olhos, mas não o coração
e a alma. Aliás, nem dentro de suas paredes ela consegue provocar
mudanças. Assim, mudam-se sim a roupa, a moda, os ritmos, a forma de
culto, os aparatos, mas vidas não. Ela corre o risco de girar em torno
de si mesma com grande possibilidade de perder de vez o equilíbrio
espiritual que já anda cambaleando. Muitas estão embriagadas como disse
acima pela aguardente derivada do sucesso e produzidas nos campos
agrícolas do inferno.
Enquanto esta igreja moderna e cheia de vícios mundanos não acordar para
um quebrantamento do Espírito, vamos nos encantar com nosso gigantismo,
mas não seremos efetivos em nosso impacto, mal conseguiremos amedrontar
o inimigo. Enquanto não voltarmos às raízes do cristianismo abandonando
práticas impostas pelo inimigo nos veremos perdidos no oceano das
incertezas e de um evangelho de formas, mas sem qualquer conteúdo.
Eu prefiro não ser "gospel" no sentido em que esta palavra é usada
hoje, mas sou de JESUS, creio num avivamento da igreja brasileira e
sonho com o dia em que o Brasil será usado por Deus para um impacto
missionário global. Sonho com vidas transformadas para o mundo e não com
vidas conformadas com este mundo; sonho com igrejas impactantes e não
com grupos religiosos sendo subservientes ao senhor das trevas, Satanás.
Carlos Roberto Martins de Souza
http://aprendizdeteologo.com/
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