Escrevi este diálogo num momento de silêncio da minha alma. Enquanto
meditava na forma como Jesus abria as portas do céu para as pessoas. A
inspiração veio do amor que Jesus sentia por cada homem e sente pelas
milhões de almas que a igreja se abstém de alcançar. Veio do amor simples,
companheiro e gratuito com que fui amado por Jesus e que desejo muito que
todos saibam que podem desfrutá-lo. Como diz uma certa campanha "Sim, nós
podemos". O texto me saiu cômico, no entanto, após certa pitada de humor, a
verdade apareceu e se tornou trágica. Tão pesada que senti meu coração
diminuir.
Por favor, meditem neste diálogo. Há uma grande verdade sendo dita. Espero
que vocês consigam senti-la.
O evangelho é empunhado pelos religiosos como se fosse uma faca, para
subjugar o indivíduo e a moralidade como se fosse um sabonete, para limpá-lo
por fora e dar-lhe uma aparência de limpo.
O cenário do diálogo é o da crucificação, onde se encontram as três cruzes e
os crucificados já em suas posições de condenação e o momento é o mesmo em
que a Bíblia narra a conversa entre Jesus e o criminoso. O acontecimento,
que está exatamente em Lucas 23: 42.43, mostra a conversa entre Jesus e um
criminoso, assim:
"E disse (o criminoso) a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares
no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que ainda hoje estarás
comigo no Paraíso."
A conversa a seguir se dá no mesmo cenário e o acontecimento é o mesmo. No
entanto, Jesus deu lugar à "Igreja estabelecida", não a igreja invisível. Ou
seja, coloquei a "Igreja estabelecida" na cruz ao lado dos criminosos, e a
conversa transcorreu desta forma:
- Ei, Igreja, lembra de mim quando entrares no teu reino.
- Lembrar de você? Como, se nem sei quem você é?
- Basta uma simples lembrança, já resolve tudo.
- Dá não. Tenho muitas responsabilidades, com certeza não iria lembrar.
- Não tem outra maneira que você possa fazer?
A Igreja pensa um pouco e diz:
- Faz assim, dá um passo à frente e repete o que vou dizer.
- Como? Estou preso.
- Levanta a mão, então.Também serve.
- Minhas mãos estão estendidas e amarradas, também não consigo.
- Então tá difícil, amigo.
- Você conhece tão bem essas coisas, deve haver um jeito.
A igreja pensa um pouco novamente e diz:
- Olha daí e vê se você enxerga minha secretária lá por baixo. Ela
preencherá uma fichinha sua e quando eu chegar lá, ela me passará as fichas,
aí verei seu nome e lembrarei.
- Ei, ei, guarda! Você viu a secretária da Igreja por aí? Chama ela aí, por
favor. Gritou desesperado o ladrão.
-Tem ninguém aqui não. Falou, lá de baixo, o guarda. Ela disse que ia
numa tal de vigília atrás duma unção num sei de quê, e só voltaria amanhã.
O pobre homem olhou pra igreja já em agonia de alma.
- E agora?
- Agora complicou. Tu não vai poder ir não.
- Omi, vê aí.
A igreja continuou pensando.
- Acho que há um jeito... Repete comigo exatamente o que eu vou dizer,
basta repetir... Eu aceito...
Nisso, nuvens de chuva se formaram no horizonte e um vento fortíssimo
começou a soprar.
- Eu o quê? Tô escutando não, fala mais alto.
- Eu acei... e também...
- Dá pra ouvir nãaaao! Gritou desesperado o pobre homem.
- Ah, meu amigo, não vou perder meu tempo gritando, eu já estou rouco.
O vento passa, mas as pesadas nuvens de chuva fecharam o céu de uma forma
que parecia noite. A igreja estava rouca e pensou em outra possibilidade.
- Olha! Já estou cansada, mas vamos tentar só mais esta vez. Fala para os
guardas lá embaixo arranjarem um balde com água. Eles sobem na escada e
despejam na sua cabeça, aí eu oro daqui mesmo e pronto.
- Ei, ei... Gritou esperançoso o criminoso. Arranja um balde com água, por
favor, e derrama aqui na minha cabeça.
Os guardas entreolharam-se curiosos.
- abusado esse cara, hein?
- Tem água aqui não, colega. Tem só um pouquinho de vinagre, mas já tem
serventia. Disse o outro.
O criminoso olhava para a igreja numa amargura de alma que dava pena, quando
caiu um pingo de chuva no seu ombro. Olha pra cima e se alegra:
- Igreja! Tá vendo o céu? Vai chover, isso quer dizer que o problema tá
resolvido. Quando começar a chover, tu ora.
- Pode não.
- O quê! Gritou desesperado, vendo sua última chance indo embora.
- Essa água aí é involuntária. Tem que ser voluntária, alguém tem que
derramar. É por aspersão.
- Omi, qué isso... Calou-se por um instante pensando. Já que não tem mais
jeito, faça pelo menos um favor pra mim. Explique aí aos meus filhos. Aí do
seu lado. Pra eles irem preparar estas coisas logo. Nesses tempos de guerra
ninguém sabe o que pode acontecer. Se eles cuidarem não vão correr o mesmo
risco que eu.
- Quem são seus filhos ?
- Aqueles ali ó! Aqueles dois juntinhos.
- Aqueles alí?
- Sim.
- Qual a idade deles?
- O maior tem sete e o menor quatro.
- Dá não.
- Não dá o quê?
- São muito novinhos. Nem tem consciência de nada.
- Tem sim. Peça para eles darem um passo pra frente ou levantar as mãos,
qualquer coisa. Você vai ver como eles são inteligentes.
- Mas, não pode. Não é permitido.
- Aí eles vão pro inferno, é? Gritou em desespero.
- Depende.
- Depende de quê?
- Você frequenta alguma igreja? Tem alguma confissão?
- Como assim?
- Você é batista, congregacional, plesbiteriano, pentecostal,
neo-pentecostal, metodista, Luterano, ortodoxo, anglicano ou católico?
Porque dependendo do que você for, ainda pode haver um jeito. Tem umas que
batiza crianças, têm outras que só adultos e outras que já despacham de vez
pro inferno.
- Qué isso... Falou desanimado de vez o pobre homem. Faça o
seguinte. Gritou
agora com raiva. Me esqueça, deixa eu ir pro meu canto, não tem jeito
mesmo.
A igreja pensou... Pensou, e disse:
- Olha. Ainda tem uma brecha legal lá no velho testamento. Diz que se você
tiver alguma coisa que possa dar, dez por cento seria ideal, uma benção
poderosa de abastança irá te alcançar. Lá no livro de Malaquias 3:10.
- pra ir pro céu também?
- Não. Só serve para este mundo. Mas, pense bem. Com apenas dez por cento,
você vai sair dessa cruz, vai comprar uma casinha. Pode até arranjar um
emprego de capitão na guarda romana.
- Poxa, mas eu não tenho nada não, eu tava preso, sem trabalhar. Tenho não.
Deixa-me ir pro inferno mesmo. Lá não tem essa burocracia, pra ir é de
GRAÇA.
- Pois bem. Aqui esse papo de GRAÇA num funciona não. Boa viagem.
Nisso, os trovões rasgaram o céu de alto abaixo. Estava consumado.
Soli Deo Gloria
*Se o texto lhe tocou de alguma forma presenteio a um amigo.
Olavo Saldanha
http://olavosaldanha.wordpress.com/
<http://digitalware.com.br/graca/>
http://caminhodagraca-natal.blogspot.com
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