13 julho 2011

O Espírito da Caminhada

O vento sopra onde quer, não sabes de onde vem, nem para onde vai.
Assim é todo o que é nascido do Espírito.
Essas palavras de Jesus parecem nos apavorar! E por quê? Porque ninguém
quer ficar sem saber para onde vai! E ninguém quer, de fato, confiar a
vida a Deus. Por que videntes e astrólogos têm tanta popularidade? Ora,
é porque todo mundo quer saber o futuro, enquanto todo mundo tem medo
do futuro! O justo, porém, viverá a cada dia apenas pela Fé!
A questão, no entanto, não é saber para onde se vai. A única coisa que
interessa é a Quem estou seguindo. Ora, nesse caso, não se trata nem
mesmo de buscar seguir algo visível, mas de se deixar levar pela leveza
do intangível, sem medo, e com total confiança.
Hoje em dia ninguém mais quer seguir o Vento, se é que algum dia já se
aceitou isto. Uma mente religiosamente estruturada acaba por
tentar "sistematizar" o Vento, o Espírito e a Vida.
O interessante é que Jesus é o Caminho, e segui-lo é a própria certeza
de "para onde se está indo", pois o alvo da jornada é Vida no Pai.
"Vós sabeis o caminho..." — disse Jesus. Eles responderam: "Como saber
para onde vais, sem saber o caminho"? Todos conhecem a resposta: "Eu
sou o Caminho, a Verdade e a Vida, e ninguém vem ao Pai senão por mim".
Ora, é aqui que mora a angústia da alma religiosa. Depois de milênios
de treinamento para pensar no Caminho como Conduta, na Verdade como
Doutrina e na Vida como Performance, quem ainda sabe intuir a
simplicidade das palavras de Jesus?
E pior: depois de pensar no Caminho como um "projeto", na Verdade como
um "sistema" e na Vida como um "modo de ser" conforme a religião, quem
pode ainda entender o significado do chamado de Jesus?
E mais desgraçadamente ainda: depois de pensar no Caminho como
o "Pacote da Salvação", na Verdade como a "Certeza dos Crentes", e na
Vida como uma "Longínqua Eternidade", quem consegue ainda discernir a
concreta subjetividade do chamado de Jesus Hoje?
E só para concluir: depois de anos confundindo o Caminho com
uma "Estrada Institucional", a Verdade com a "Teologia" e a Vida com
a "Disciplina da Igreja", quem ainda pode, apenas de leve, perceber o
convite de Jesus para segui-Lo no Caminho, sendo levado pelo vento,
seja andando em Verdade no ser e experimentando a Vida na vida?
Não! A gente quer um mapa, um sistema, uma estratégia, um planejamento
de curto, médio e longo prazo. A gente quer saber como
acontecerá: "Qual a estrutura que nos governará? Quais os sistemas que
nos conduzirão? E quais os objetivos concretos a serem declarados? E
que organização terá"?
Para mim, se discirno com alguma correção o Evangelho, o espírito é
outro. Jesus nunca organizou muita coisa, a não ser chamar doze homens
para estarem mais próximos Dele, reunir a multidão em grupos a fim de
repartir o pão, e enviar alguns antes Dele a fim de fazerem
preparativos específicos. No mais, nada mais!
"Não andeis ansiosos... quanto ao vosso ministério, pois a vida é mais
que o ministério."
"Não vos preocupeis com o que haveis de falar, pois o Espírito vos
concederá..."
"Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos..."
E lhes deu NADA como armadura, exceto a simplicidade do poder que vem
da Graça.
Tudo que diz respeito ao Evangelho que surge com a pretensão de ser uma
organização já nasce moribundo. A vitalidade do Evangelho está em se
deixar conduzir pelo Espírito, conforme a verdade da vida e a vida na
verdade.
Portanto, para mim, o melhor governo é o menor possível; o melhor modo
é o mais simples; a melhor forma é aquela que serve à vida; e o melhor
meio é aquele que vai sendo!
Eu creio que a sabedoria do Caminho é deixar que o vinho designe o odre
e deixar que o pano determine a melhor veste para ele. E mais: é saber
que o Vinho Novo sempre haverá de demandar, a cada momento ou geração,
o odre apropriado; e que a Veste Nova haverá de ser combinada com o
feitio que lhe for próprio.
Assim, as formas servem às essências, e não o contrário! Para andar no
Caminho tem-se que desistir do modelo industrial, ou da montagem em
série, ou da franquia, ou do modelo pré-fabricado, ou de toda fixidez
de formas, com suas Constituições e Regimentos, sejam escritos ou
subentendidos, visto que todas essas coisas só servem para agarrar-se
às paredes do visível, para aplicar fórmulas de sucesso ministerial
conforme o Mundo, para instituir hierarquias engessadas e para nos
proteger uns dos outros.
E não haverá formas e governos eclesiais?
Ora, ninguém que viva no tempo e no espaço pode crer que as formas
sejam evitáveis. Nossa dimensão precisa de forma: tempo e espaço
produzem formas.
Porém, quem deu forma aos mares, às montanhas, aos rios, às florestas,
aos desertos, aos vales e à vida?
Por que não se pode confiar que Aquele que fez isto em rocha, pedra,
areia, poeira, vegetação e todas as demais coisas também pode dar forma
ao que também é de Sua criação no coração humano, conforme a
necessidade de cada geração?
No que depender de mim, o Caminho da Graça continuará a caminhar
conforme a água. Alguém já viu a água ter algum problema com a forma?
Não! A água se serve de todas as formas. As formas servem à água, não a
água às formas!
O espírito da caminhada é a simplicidade. Há um só Pastor. Há um só
Guia. Há um só Mestre. E a Ele, conforme os princípios do Evangelho,
nós todos seguiremos. E orientadores e supervisores servem apenas para
manter as formas a serviço da essência, sem nunca maculá-la!
Pois nossa segurança está na essência do Evangelho. Onde quer que esse
espírito do Evangelho tenha prevalência, todas as boas formas lhe
prestarão serviço, mas jamais se tornarão um fim em si mesmas.
Serviu, serve; não serviu, então já não serve. E a única coisa que não serve
mesmo é atrofiar a Palavra para que ela fique conforme a forma e
a "forma".
Ora, se um dia tivermos presbíteros, saiba: eles não serão fiscais da
vida e nem senhores da doutrina, mas gente da misericórdia e da paz. Se
tivermos diáconos, saiba: eles não serão porteiros de reunião, mas
pessoas que só serão servos se servos forem na vida. No entanto, muitas
vezes, a melhor maneira de não matar a vida espontânea é não batizá-la
de modo oficial.
Criar muitas e muitas formas de governo não é difícil. E há muitas
roupas de grife se oferecendo como modelo para a vestimenta do pano
novo. Mas é disso que fujo. No que nos diz respeito, o Espírito
conduzirá as coisas conforme a pertinência. E nisto, também, o justo
terá que se alegrar na aventura da fé.
A questão do Caminho como lugar é simples: por que a gente apenas não
se reúne com alegria singela, não experimenta o amor que liberta, não
goza o privilégio da simplicidade, não se alimenta da Palavra, e não
volta à vida cheios das Boas Novas para contar ao mundo?
Por que a gente não faz do lugar só um lugar? Lugar onde se faz um
pouso, uma estação de bom ânimo e revigoramento da fé e que abasteça a
vida na troca e ministração dos dons?
Já somos, em muitos lugares, um "pouso" para quem pede. E quando
digo "somos", apenas digo que os que se designam "do Caminho" são
apenas discípulos de Jesus que se encontram em torno da mesma percepção
do Evangelho.
Uma "Estação" do Caminho é uma paragem para os peregrinos. O Caminho
não é na Estação; é na estrada, é na pluralidade da existência, é em
meio a tudo e a todos, é nas portas do inferno.
A Estação é um pouso rápido, é um pernoite; ou, no mundo moderno, nem
mesmo isso, posto que "estar na estação" — num metrô, por exemplo — é
coisa tão rápida que a pessoa quase nem chega a "estar".
Não temos, todavia, a aflição das estações de metrô. Preferimos as
Estações das estadas andantes, antigas ou primitivas, nas quais a
Estação era apenas uma "ramagem" na beira da estrada. Ou apenas um
lugar comum onde os peregrinos, os hebreus do caminho, se encontram.
Quanto ao senso de "grupo", no Caminho ele não existe como tentativa de
separação do mundo. Existe apenas o senso de unidade na fé, em meio à
pluralidade das muitas expressões humanas.
O fato é que a mentalidade da "igreja" sempre foi a de criar
uma "sociedade paralela" com todas as formas de governo secular (e hoje
empresarial) a fim de que alguns sejam os donos do processo, os
controladores do povo, os governadores de Deus e os xerifes da
santidade.
A "igreja" quer tirar as pessoas da vida e do mundo, criando um viveiro
de doentes e arrogantes.
O Caminho do Evangelho, porém, não é assim! Não é! Nele, as pessoas não
fogem do mundo e nem da vida. Nele não tem que haver governadores e nem
príncipes. Nele, confia-se na Soberania de Jesus e na efetividade de
Seu poder. Nele, cada pessoa é uma testemunha no mundo, não um
militante de um partido eclesiástico. É dessa mentalidade que queremos
estar longe!
E quanto ao futuro?
Ora, amigos de caminhada, se já não temo a morte, por que haverei de
temer o futuro? O Senhor nos guiará se nós não tentarmos guiar o Senhor!
Aonde vai dar esse caminho? Já deu no Pai. E nos conduzirá a cada dia
no caminho da pacificação!
Assim, sirvo a Deus Hoje, e não vivo a neurose de como será amanhã. Não
sofro dessa ansiedade. Hoje, todavia, há milhares de filhos de Deus que
andam dispersos. Quem está feliz onde está, deve ficar onde está.
Apenas proponho que os que parecem não caber em lugar nenhum, ou os que
amam a Jesus, mas justamente por isso não suportam a convivência
religiosa — conforme ela se tornou —, que não se sintam "desviados",
que não se tornem solitários e que se ajuntem, que se reúnam, que se
encontrem, que se fortaleçam na fé, mutuamente; e, sobretudo, que
ensinem o Evangelho uns aos outros. E que saiam para a vida, para toda
ela, por todo o mundo, qualquer mundo, até os confins de qualquer fim
de terra; e que, indo, preguem, testemunhem e façam discípulos de
Jesus, ensinando a eles que o lugar onde se serve a Deus é no mundo, e
que o lugar chamado Igreja é qualquer lugar onde dois ou três se reúnam
em Seu nome, até numa "Estação do Caminho" ou em qualquer estação, com
ou sem nome, desde que seja um lugar de refrigério, acolhimento amoroso
e manifestação do Poder de Deus, em meio aos dons espirituais.
Mas há certas coisas que só são provadas se são provadas e se fazem
provadas, ainda que para alguns pareçam improváveis. É bom, todavia,
que se saiba que o Evangelho é apenas para gente que crê no impossível.
Por fim, pensem em Abraão, que saiu, e foi sem saber para onde ia. Daí
Deus ter considerado que ele era um amigo. A grande recompensa da
confiança é a amizade de Deus!
Se alguém ouvir e crer, e levantar-se para a Vida em nome de Jesus,
esse é membro da Doce Revolução!
Caminho da Graça
http://blogcaminho.blogspot.com/

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