28 outubro 2010

Resgatando Jesus

Não precisamos ir muito longe para percebermos a diversidade de
#Jesuses# que existe no mercado. Tem #Jesus# pra todo gosto. Em muitos
lugares louvores são entoados a essas entidades que carregam o mesmo
nome, mesmo que não sejam semelhantes avaliadas suas características.
São tantos #Jesuses# que a maioria das pessoas não percebeu o óbvio # O
Jesus do Evangelho é o mais desconhecido de todos. Concordo com Nolan
quando disse que #Jesus tem sido mais frequentemente honrado e venerado
por aquilo que ele não significou, do que por aquilo que ele realmente
significou. A suprema ironia é que algumas das coisas, às quais ele mais
fortemente se opôs na sua época, foram ressuscitadas, pregadas e
difundidas mais amplamente através do mundo # em seu nome. Jesus não
pode ser totalmente identificado com o grande fenômeno religioso do
mundo ocidental, conhecido como cristianismo#. (Albert Nolan # Jesus
antes do cristianismo)
Para um resgate de Jesus em nossa sociedade não é proclamando seu nome
que hoje se confunde com as cópias que carregam a mesma nomenclatura,
mas através de um resgate da mensagem do Nazareno, que uma vez crida,
porá fim a este mercado gospel que se estabeleceu em seu nome.
Precisamos deixar de lado todas as nossas imagens de #Jesus#,
conservadoras, progressistas, devotas, libertárias e acadêmicas e
mergulharmos no ensino do Evangelho.
Segundo os escritos neotestamentários Jesus tinha toda a sua atenção
voltada aos pobres (mendigos, doentes, desempregados, viúvas, órfãos,
operários diaristas, camponeses, escravos e os pecadores # desviados dos
costumes tradicionais) # aqueles que dependem da misericórdia de outrem,
dos quais era retirado o direito ao arrependimento, pois todo processo
religioso de purificação custava muito dinheiro. Além de levarem toda
espécie de vitupério, como ter que em suas doenças, ou desgraças serem
vistos como castigados por Deus.
Jesus escolheu estar entre os pobres e aceitando os pecadores como
iguais, Jesus afastava deles a culpa, a vergonha e a humilhação # é isso
que significa perdão. E o que movia Jesus era a compaixão. Por esta
escolha, e pelo seu ensino que denunciava toda forma de opressão e
exclusão do próximo, Jesus atraiu como inimigo os religiosos de sua
época.
Os fariseus (linha religiosa dominante em Israel) foram os principais
antagonistas de Jesus, talvez pelo fato de os saduceus não crerem nas
coisas que Jesus defendia (ex. ressurreição dos mortos). O universalismo
de Jesus chocava-se com o exclusivismo farisaico. A liberdade de Jesus
chocava-se com as abluções ritualísticas dos fariseus, as quais
considerava tradições de homens.
Por afastar-se fundamentalmente da concepção vigente a respeito da lei
em seus ensinamentos e ações, Jesus entrou em conflito com os escribas,
os rabinos, que interpretavam a lei de acordo com a tradição. A reação
do sacerdócio a Jesus se deu mais por questões políticas do que
religiosas.
Entre os pobres Jesus anuncia sua mensagem revolucionaria: O Reino,
Reino de Deus ou Reino dos céus ou ainda vida e vida eterna. Trata-se do
reino Daquele que está no céu. Não se refere a um reino que está no céu
ou que vem do céu. A idéia de um mundo celestial não se encontra na
mensagem primitiva.
Jesus com toda probabilidade a um só tempo falou de uma vinda presente e
futura do reino de Deus. Anunciava o juízo, a vinda do filho do homem
como confronto de Deus com a história, e o irromper do Reino, que tem em
suas obras apenas sementes, e esse Reino vem de Deus também por meio da
ação humana.
Para Jesus a vinda do reino de Deus não está incluída na história e
subordinada à mesma, mas dá ao mundo presente bem como ao futuro sua
feição, consumando-a numa nova criação.
Esse era o tema de Jesus. Ele não se ocupou com outros temas, não
discutiu teorias da origem do mal ou da miséria. Não se deteve em
dilemas dualistas. Mas por meio de sua mensagem desafiou o sistema de
classes, apontando o Reino com um Reino de partilha, onde não haviam
privilegiados. Um Reino das crianças, sem grandeza, status, prestígio.
Cabe aqui citar novamente Nolan: #Aqueles que não possam suportar que os
mendigos, ex-prostitutas, empregados, mulheres e crianças sejam tratados
como seus iguais, aqueles que não possam viver sem se sentirem
superiores, ao menos em relação a algumas pessoas, simplesmente não se
sentirão em casa no reino de Deus, tal como Jesus o compreendia. Esses
vão querer se excluir do Reino.# (Albert Nolan)
A mensagem de solidariedade universal de Jesus que chamava Deus de Pai e
os homens de irmãos desafiava todos os grupos exclusivistas. E foi por
não abrir mão dessa mensagem que tramaram a morte de Jesus, que morreu
voluntariamente para que o Reino pudesse vir.
Jesus não fundou uma organização, ele inspirou um movimento. Jesus não
estabeleceu sucessores, mas chamou gente para crer no que Ele cria. A
pergunta que temos que é fazer é: Cremos no Reino de Deus? E se cremos
porque ainda não fizemos nada a respeito?
Ivo Fernandes
http://ivofernandes.blogspot.com

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