28 outubro 2010

A vontade de Deus

Obviamente a vontade de Deus é de Deus.
Sim! A vontade Dele é Dele; e de mais ninguém.
Jesus disse que comia a vontade do Pai, que se alimentava dela.
Ora, se eu tenho muitas vontades e se as exerço de modo pessoal e
incompartilhável, que não dizer da vontade de Deus?
"Quem conheceu a mente do Senhor?"
*Além disso, o que me separa de Deus em todos os sentidos possíveis é
infinitamente mais do que o que separa de um organismo mono-celular.*
Assim, Deus se revela às amebas como as amebas podem processar.
Ora, o mesmo Deus faz com os homens!
O problema é o surto humano. Sim! O homem crê que é "capaz de entender
Deus", e,
sobretudo, de dizer aos outros humanos qual seja a vontade de Deus para o
outro.
A vontade de Deus é uma só: que nos amemos uns aos outros!
Deus não tem planos profissionais para ninguém. Nem de qualquer outra
natureza tópica. O plano de Deus, não importando onde eu esteja, é que eu
ame e pratique o amor. O resto é insignificante!
É o que Paulo diz quando afirma: "... ainda que eu..." fale línguas de
homens e anjos, ou profetize, ou saiba todas as ciências e adquira todas as
sabedorias, ou me entregue às praticas de martírio ou de entrega social de
todas as minhas produções aos demais homens necessitados, mas, "se não tiver
amor, nada me aproveitará"; e mais: nada será vontade de Deus.
Paulo nunca discutiu nada disso. Sabia fazer tendas. Mas era chamado para
pregar. Por isso, tendo dinheiro para entregar-se apenas à pregação, assim
fazia. Mas se não tinha, então, fazia tendas, e, pregava nas horas
possíveis.
Ou seja:
Paulo tratava tudo com simplicidade, pois, a vontade de Deus era amor, e,
amor, cabe em qualquer oficina de tendas.
As pessoas perguntam, referindo-se aos detalhes da vida, como se eu ou
qualquer outro ser ameba humano pudéssemos responder: Qual é a vontade de
Deus para a minha vida?
Ora, eu posso responder, mas a resposta que tenho a dar não satisfaz as
pessoas que querem saber a vontade de Deus como um guia afetivo e
profissional das jornadas na Terra.
Então, não sei!... Afinal, nessas coisas, à semelhança de Paulo, apenas uso
o bom senso para decidir, e nunca o faço como quem consulta um "guia de
jornada", mas apenas como uma decisão de agora, da circunstancia do existir;
e isto, sempre, apenas conforme o espírito do Evangelho, que é amor.
*A vontade de Deus são os Seus mandamentos, embora Jesus tenha nos dito que
até os mandamentos, sem que sejam vividos em amor, são desagradáveis a Deus;
pois, sem amor, todo mandamento não passa de presunção e arrogância.*
*A vontade de Deus é amor, alegria, paz, bondade, longanimidade, mansidão e
domínio próprio!*
Se você faz isso entregando o lixo, operando na mais rica clinica de
neurocirurgia, ou se o faz pregando como um ensinador da Palavra, não
importa; pois, a única coisa que importa para Deus é se você vive ou não o
amor como o mandamento de seu ser.
O que Deus quer de mim? Onde quer que eu trabalhe? Com quer que eu case?
Ora, Jesus não respondeu tais perguntas a ninguém!
Quando Pedro quis saber... Jesus apenas disse: "*Que te importa? Quanto a
ti, vem e segue-me*".
*Quanto mais a pessoa se dispõe a andar em amor e fé, sem buscar mais nada,
tanto mais ela encontrará uma sintonia fina com Deus e com a vida, e, assim,
sem que ela sinta, irá sendo posta no leito do rio de sua própria vida.*
É claro que Deus tem a vontade que diz "não". Mas essa é a não-vontade de
Deus. É o que Deus não quer, pois, é o que Deus não é.
Deus não é mentira, nem engano, nem ódio, nem cobiça, nem traição, não
injustiça, nem maldade, nem indiferença, nem descrença, nem altivez, nem
orgulho, nem arrogância, nem vaidade, nem medo e nem frieza de ser.
Assim, a tais coisas Deus diz "não", mas não como quem diz a Sua vontade,
mas apenas aquilo que não é vontade Dele.
Portanto, a vontade de Deus não é "não", mas "sim", embora a maioria apenas
pense na vontade de Deus como negação.
Ou seja:
Para tais pessoas Deus é Aquele que diz "Não".
A proporção, todavia, continua idêntica à que foi estabelecida no Éden.
Pode-se comer de tudo, e, apenas diz-se não a uma coisa: inventar a nossa
vontade contra essa única coisa à qual Deus disse "não".
*Todas as árvores do Jardim são comestíveis, mas, continuamos discutindo a
única arvore proibida, tamanha é a nossa fixação na transgressão como
obsessão na vida.**
*
Entretanto, a vontade de Deus é sim, e, para aqueles que desejam fazer a
vontade de Deus, e não apenas discuti-la, Deus revela Sua vontade como fé e
amor, e, nos diz que se assim vivermos provaremos tudo o que é bom, perfeito
e agradável, não porque a vida deixe de doer, mas apenas porque o pagamento
do amor transcende a toda dor.
A vontade de Deus é que eu desista das coisas de menino nesta vida e abrace
as coisas de um homem segundo Deus.
Agora, se você vai trocar de casa, de carro, de mulher, de emprego, de
cidade, de país, de nome — sinceramente, é melhor consultar um bruxo, uma
feiticeira ou um profeta que aceite pagamento para contar tal historinha.
Você pergunta a Jesus:
*Senhor, qual é a Tua vontade para mim?*
Ele responde:
*É a mesma para todos os homens. Sim! Que você ame e pratique o amor, pois,
sem amor, nada será vontade de Deus para você, ainda que você distribua
todos os seus bens aos pobres e entregue o seu corpo para ser queimado em
martírio de dignidade pela consciência e pela liberdade.*
Dá pra entender ou é difícil demais?
Que tal a gente parar de brincar de vontade de Deus? Vamos?
Chega; não é gente?

Nele, que é a vontade de Deus para o homem,

Caio Fábio

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Resgatando Jesus

Não precisamos ir muito longe para percebermos a diversidade de
#Jesuses# que existe no mercado. Tem #Jesus# pra todo gosto. Em muitos
lugares louvores são entoados a essas entidades que carregam o mesmo
nome, mesmo que não sejam semelhantes avaliadas suas características.
São tantos #Jesuses# que a maioria das pessoas não percebeu o óbvio # O
Jesus do Evangelho é o mais desconhecido de todos. Concordo com Nolan
quando disse que #Jesus tem sido mais frequentemente honrado e venerado
por aquilo que ele não significou, do que por aquilo que ele realmente
significou. A suprema ironia é que algumas das coisas, às quais ele mais
fortemente se opôs na sua época, foram ressuscitadas, pregadas e
difundidas mais amplamente através do mundo # em seu nome. Jesus não
pode ser totalmente identificado com o grande fenômeno religioso do
mundo ocidental, conhecido como cristianismo#. (Albert Nolan # Jesus
antes do cristianismo)
Para um resgate de Jesus em nossa sociedade não é proclamando seu nome
que hoje se confunde com as cópias que carregam a mesma nomenclatura,
mas através de um resgate da mensagem do Nazareno, que uma vez crida,
porá fim a este mercado gospel que se estabeleceu em seu nome.
Precisamos deixar de lado todas as nossas imagens de #Jesus#,
conservadoras, progressistas, devotas, libertárias e acadêmicas e
mergulharmos no ensino do Evangelho.
Segundo os escritos neotestamentários Jesus tinha toda a sua atenção
voltada aos pobres (mendigos, doentes, desempregados, viúvas, órfãos,
operários diaristas, camponeses, escravos e os pecadores # desviados dos
costumes tradicionais) # aqueles que dependem da misericórdia de outrem,
dos quais era retirado o direito ao arrependimento, pois todo processo
religioso de purificação custava muito dinheiro. Além de levarem toda
espécie de vitupério, como ter que em suas doenças, ou desgraças serem
vistos como castigados por Deus.
Jesus escolheu estar entre os pobres e aceitando os pecadores como
iguais, Jesus afastava deles a culpa, a vergonha e a humilhação # é isso
que significa perdão. E o que movia Jesus era a compaixão. Por esta
escolha, e pelo seu ensino que denunciava toda forma de opressão e
exclusão do próximo, Jesus atraiu como inimigo os religiosos de sua
época.
Os fariseus (linha religiosa dominante em Israel) foram os principais
antagonistas de Jesus, talvez pelo fato de os saduceus não crerem nas
coisas que Jesus defendia (ex. ressurreição dos mortos). O universalismo
de Jesus chocava-se com o exclusivismo farisaico. A liberdade de Jesus
chocava-se com as abluções ritualísticas dos fariseus, as quais
considerava tradições de homens.
Por afastar-se fundamentalmente da concepção vigente a respeito da lei
em seus ensinamentos e ações, Jesus entrou em conflito com os escribas,
os rabinos, que interpretavam a lei de acordo com a tradição. A reação
do sacerdócio a Jesus se deu mais por questões políticas do que
religiosas.
Entre os pobres Jesus anuncia sua mensagem revolucionaria: O Reino,
Reino de Deus ou Reino dos céus ou ainda vida e vida eterna. Trata-se do
reino Daquele que está no céu. Não se refere a um reino que está no céu
ou que vem do céu. A idéia de um mundo celestial não se encontra na
mensagem primitiva.
Jesus com toda probabilidade a um só tempo falou de uma vinda presente e
futura do reino de Deus. Anunciava o juízo, a vinda do filho do homem
como confronto de Deus com a história, e o irromper do Reino, que tem em
suas obras apenas sementes, e esse Reino vem de Deus também por meio da
ação humana.
Para Jesus a vinda do reino de Deus não está incluída na história e
subordinada à mesma, mas dá ao mundo presente bem como ao futuro sua
feição, consumando-a numa nova criação.
Esse era o tema de Jesus. Ele não se ocupou com outros temas, não
discutiu teorias da origem do mal ou da miséria. Não se deteve em
dilemas dualistas. Mas por meio de sua mensagem desafiou o sistema de
classes, apontando o Reino com um Reino de partilha, onde não haviam
privilegiados. Um Reino das crianças, sem grandeza, status, prestígio.
Cabe aqui citar novamente Nolan: #Aqueles que não possam suportar que os
mendigos, ex-prostitutas, empregados, mulheres e crianças sejam tratados
como seus iguais, aqueles que não possam viver sem se sentirem
superiores, ao menos em relação a algumas pessoas, simplesmente não se
sentirão em casa no reino de Deus, tal como Jesus o compreendia. Esses
vão querer se excluir do Reino.# (Albert Nolan)
A mensagem de solidariedade universal de Jesus que chamava Deus de Pai e
os homens de irmãos desafiava todos os grupos exclusivistas. E foi por
não abrir mão dessa mensagem que tramaram a morte de Jesus, que morreu
voluntariamente para que o Reino pudesse vir.
Jesus não fundou uma organização, ele inspirou um movimento. Jesus não
estabeleceu sucessores, mas chamou gente para crer no que Ele cria. A
pergunta que temos que é fazer é: Cremos no Reino de Deus? E se cremos
porque ainda não fizemos nada a respeito?
Ivo Fernandes
http://ivofernandes.blogspot.com
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Testemunho de Patricia

Eis aqui um testemunho autêntico:
Meu nome é Patrícia, tenho 17 anos, e encontro-me no
momento quase sem forças, mas pedi para a enfermeira Dane
minha amiga escrever esta carta que será
endereçada aos jovens de todo o Brasil, antes que seja
tarde demais:
Eu era uma jovem 'sarada', criada em uma excelente
família de classe média alta Florianópolis. Meu pai é
Engenheiro Eletrônico de uma grande estatal e procurou
sempre para mim e para meus dois irmãos dar tudo de bom e
o que tem e melhor,inclusive liberdade que eu nunca soube
aproveitar.
Aos 13 anos participei e ganhei um concurso para modelo e
manequim para a Agência Kasting e fui até o final do
concurso que selecionou as novas Paquitas
do programa da Xuxa. Fui também selecionada para fazer um
Book na Agência Elite em São Paulo..
Sempre me destaquei pela minha beleza física, chamava a
atenção por onde passava. Estudava no melhor colégio de
'Floripa', Coração de Jesus. Tinha todos os
garotos do colégio aos meus pés.
Nos finais de semana freqüentava shopping, praias, cinema,
curtia com minhas amigas tudo o que a vida tinha de melhor a
oferecer às pessoas saradas, física e mentalmente.
Porém, como a vida nos prega algumas peças, o meu destino
começou a mudar em outubro de 2004. Fui com uma turma de
amigos para a OKTOBERFEST em Blumenau.
Os meus pais confiavam em mim e me liberaram sem mais
apego. Em Blumenau, achei tudo legal, fizemos um esquenta no
'Bude', famoso barzinho na Rua XV.
À noite fomos ao 'PROEB' e no 'Pavilhão
Galego' tinha um show maneiro da Banda Cavalinho Branco.
Aquela movimentação de gente era trimaneira''.
Eu já tinha experimentado algumas bebidas, tomava
escondido da minha mãe o Licor Amarula, mas nunca tinha
ficado bêbada. Na quinta feira, primeiro dia e OKTOBER,
tomei o meu primeiro porre de CHOPP.
Que sensação legal curti a noite inteira
'doidona', beijei uns 10 carinhas, inclusive minhas
amigas colocavam o CHOPP numa mamadeira misturado com
guaraná para enganar os 'meganha', porque menor
não podia beber; mas a gente bebeu a noite inteira e os
otários' não percebiam.
Lá pelas 4h da manhã, fui levada ao Posto Médico, quase
em coma alcoólico, numa maca dos Bombeiros.. Deram-me umas
injeções de glicose para melhorar. Quando fui
ao apartamento quase 'vomitei as tripas', mas o meu
grito de liberdade estava dado. No dia seguinte aquela dor
de cabeça horrível, um mal estar daqueles como
tensão pré-menstrual. No sábado conhecemos uma galera de
S. Paulo, que alugaram um ap' no mesmo prédio. Nem
imaginava que naquele dia eu estava sendo
apresentada ao meu futuro assassino. Bebi um pouco no
sábado, a festa não estava legal, mas lá pelas 5:30 h da
manhã fomos ao 'ap' dos garotos para curtir o
restante da noite. Rolou de tudo e fui apresentada ao famoso
baseado'Cigarro de Maconha', que me ofereceram.
No começo resisti, mas chamaram a gente de 'Catarina
careta', mexeram com nossos brios e acabamos
experimentando. Fiquei com uma sensação esquisita, de
baixo astral, mas no dia seguinte antes de ir embora
experimentei novamente.
O garoto mais velho da turma o 'Marcos', fazia
carreirinho e cheirava um pó branco que descobri ser
cocaína. Ofereceram-me,mas não tive coragem naquele dia.
Retornamos a 'Floripa' mas percebi que alguma coisa
tinha mudado, eu sentia a necessidade de buscar novas
experiências, e não demorou muito para eu novamente
deparar-me com meu assassino 'DRUGS'.
Aos poucos, meus melhores amigos foram se afastando quando
comecei a me envolver com uma galera da pesada, e sem
perceber, eu já era uma dependente química, a partir do
momento que a droga começou a fazer parte do meu cotidiano.
Fiz viagens alucinantes, fumei maconha misturada com
esterco de cavalo, experimentei cocaína misturada com um
monte de porcaria.
Eu e a galera descobrimos que misturando cocaína com
sangue o efeito dela ficava mais forte, e aos poucos não
compartilhávamos a seringa e sim, o sangue que cada
um cedia para diluir o pó.
No início a minha mesada cobria os meus custos com as
malditas, porque a galera repartia e o preço era
acessível. Comecei a comprar a 'branca' a R$ 10,00
o grama, mas não demorou muito para conseguir somente a R$
20,00 a boa, e eu precisava no minimo 5 doses diárias.
Saía na sexta-feira e retornava aos domingos com meus
'novos amigos'. Às vezes a gente conseguia o
'extasy', dançávamos nos 'Points' a noite
inteira e depois.... farra!
O meu comportamento tinha mudado em casa, meus pais
perceberam, mas no início eu disfarçava e dizia que eles
não tinham nada a ver com a minha vida...
Comecei a roubar em casa pequenas coisas para vender ou
trocar por drogas...Aos poucos o dinheiro foi faltando e
para conseguir grana fazia programas com uns velhos que
pagavam bem.
Sentia nojo de vender o meu corpo, mas era necessário para
conseguir dinheiro. Aos poucos toda a minha
família foi se desestruturando.
Fui internada diversas vezes em Clínicas de Recuperação.
Meus pais, sempre com muito amor, gastavam fortunas para
tentar reverter o quadro.
Quando eu saía da Clínica agüentava alguns dias, mas
logo estava me picando novamente. Abandonei tudo: escola,
bons amigos e família.
Em dezembro de 2007 a minha sentença de morte foi
decretada; descobri que havia contraído o vírus da AIDS,
não sei se me picando, ou através de relações sexuais
muitas vezes sem camisinha.
Devo ter passado o vírus a um montão de gente, porque os
homens pagavam mais para transar sem camisinha.
Aos poucos os meus valores, que só agora reconheço,
foram acabando, família,amigos,pais, religião, Deus, até
Deus, tudo me parecia ridículo.
Meu pai e minha mãe fizeram tudo, por isso nunca vou
deixar de amá-los.
Eles me deram o bem mais precioso que é a vida e eu a
joguei pelo ralo. Estou internada, com 24 kg, horrível,
não quero receber visitas porque não podem me ver assim,
não sei até quando sobrevivo, mas do fundo do coração
peço aos jovens que não entrem nessa viagem maluca...
Você com certeza vai se arrepender assim como eu, mas
percebo que é tarde demais pra mim.
OBS.: Patrícia encontrava-se internada no Hospital
Universitário de Florianópolis e a enfermeira Danelise,
que cuidava de Patrícia, veio a comunicar que Patrícia
veio a falecer 14 horas mais tarde depois que escreveram
essa carta, de parada cardíaca respiratória em
conseqüência da AIDS.
Por favor, repassem esta carta. Este era o último desejo
de Patrícia.
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Trabalhadores da vinha

Em Mateus 20, na parábola dos trabalhadores da última hora, há uma
questão de natureza essencial acerca da natureza humana quando exposta
ao amor de Deus.
"Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?" - é a questão do "dono da
vinha" - figura de Deus - aos trabalhadores da "primeira hora" - que
aparecem como representação do espírito de "justiça própria".
De fato nós temos três grandes grupos humanos e psicológicos naquela
parábola. Temos no extremo, no pólo da justiça própria, os trabalhadores
"contratados" na primeira hora, que receberam a promessa de que "pelo
esforço" do trabalho feito ganhariam 1 denário cada um. É uma clara
representação da atitude espiritual que deseja receber pelo que produz.
Na realidade essa é a esperança da Lei: receber conforme o contrato da
Lei. Ora, os que assim vivem são movidos por justiça própria. Naqueles
dias, conforme a narrativa dos evangelhos, eram religiosos saduceus e
fariseus, na sua maioria. Esses da primeira hora são sempre um grupo
minoritário, porém radical e fundamentalista.
O segundo grupo humano aparece na figura dos trabalhadores que foram
chamados entre 9 horas da manhã e às 15 horas, na hora nona dos judeus.
Ora, conquanto eles façam parte de três grupos distintos de acordo com a
hora do "chamado" - 9 da manhã, meio-dia, e 3 da tarde -, de fato eles
são um grupo só; e digo isto porque o espírito da parábola os trata do
mesmo modo, ou seja, eles são figura desses encontros humanos com a
Graça de Deus que assumem o chamado de Deus como algo bom e como boa
oportunidade. A mim parece razoável que esse grupo seja feito de muito
mais gente, ou de maior diversidade humana - três turmas fazendo 1 único
grupo -, pelo simples fato que é condizente com a realidade histórica.
Isso porque a maioria da humanidade existe nesse espírito em relação a
Deus. Dizem: "Deus é bom. Deus é importante. Deus é justo. Deus é
confiável. Deus é fundamental. Deus propõe coisas boas. Deus ajuda a
gente. Quem está com Deus está bem!" - esse é o espírito da maioria.
Sim, a maior parte das pessoas experimenta o chamado da Graça sem muita
hesitação e também sem muito excitamento, e tanto não vivem para
usufruir o benefício como também não provocam ninguém por dizerem que
crêem, visto que "não cheiram nem fedem". Experimentam a Graça na
mediocridade. Sim, esses são, nos evangelhos, "a multidão do povo".
E há o terceiro grupo, aparentemente também minoritário, e que é
constituído pelos que foram chamados na hora undécima, às 5 da tarde. Os
desse grupo são representados nos evangelhos pelos publicanos,
pecadores, e todos os aflitos e vadios de esperança, mas, sobretudo,
pelos gentios que surpreendem a Jesus com sua fé. Estes são os que se
assumem como "cachorrinhos debaixo da mesa de seus donos", e não "se
acham dignos" de que Jesus entre em suas casas. Estes são encontrados na
praça, ou mesmo tirados de sobre sicômoros, e apenas ouvem um convite
irrecusável, do tipo: "Desce depressa!". Outras vezes arrombam o
descanso de Deus, como fez a mulher siro-fenícia. Esses não discutem o
"chamado", não "teologizam" sobre Deus e correm todos os riscos sem
medo. Entre esses ninguém sabe por que foi chamado. Nem discutem o tema,
pois olham para si mesmos e não vêem nada que justifique o chamado, o
qual, para eles, não foi recebido como proposta de trabalho, nem como
algo em virtude da virtude, mas como salvação da falta de significado
para a existência, ou como dor, ou apenas a mais fascinante surpresa.
Sim, esses não acertaram nada previamente, não perguntaram por condições
de trabalho e nem foram esperando nada além da chance de sair de uma
existência sem significado ou presa às correntes da angústia. Estes
apenas aceitaram o convite como surpresa, pois, eles, não julgavam que
tinham nada a perder. Estes estavam vadios de trabalho, mas eram
operários da esperança e da fé. Para eles, viver não era um risco. O
risco era não viver.
O fato é que o "dono da vinha" manda pagar a cada grupo, a começar pelos
últimos. E esses que trabalharam apenas 1 hora - entre 5 e 6 da tarde -
ganharam 1 denário cada um. E assim foi com todos. Até que chegaram os
da "primeira hora", os do "contrato", os da lei, os da atitude do "irmão
mais velho do filho pródigo". E eles alegam acerca da injustiça feita
contra eles, que trabalharam de sol a sol, e que vieram a receber a
mesma coisa que aqueles que haviam trabalhado apenas 1 hora.
A resposta do "dona da vinha" é simples. Ele diz: "Vocês receberam
conforme o contratado. Vocês não foram injustiçados. Peguem o que
ganharam e podem ir. Ou não me é licito fazer o que eu quero com o que é
meu? E se eu quiser dispor do que é meu, e dar a esses que não
trabalharam como vocês o mesmo que dei a vocês, em que lhes fiz
injustiça? Ou são maus os olhos de vocês em razão de minha Graça?"
A Graça não cria a maldade interior, mas, diante dela, toda maldade é
suscitada. E a razão é que a maldade fica ainda mais perversa quando ela
se traveste de justiça própria.
A leitura do Evangelho nos deixa ver que onde Jesus - a Graça e Verdade
em pleno beijo - passava, tanto se manifestava a bondade e a fé dos
pequeninos e simples de coração para crer como também se manifestava a
maldade da virtude dos seres movidos a justiça própria, posto que a
Graça é tão injusta aos olhos da justiça própria, que é impossível a
alguém tomado pela idéia da auto-virtude conceber que algo tão "injusto
e escandaloso" como a Graça de Deus possa ser justiça.
É estranho, mas é a justiça própria aquilo que mais gera maldade no
coração humano!
Os que andam em justiça própria - que é andar na carne - não podem
agradar a Deus, posto que aquilo que Deus chama de bondade e
misericórdia eles chamam de injustiça e auxílio à perversão.
A justiça própria se escandaliza da maior parte das obras da Graça de
Deus!
É no chão da justiça própria que a inveja também nasce com força
descomunal e com tendência psicológica homicida. Não necessariamente
gera assassinos, mas infalivelmente produz milhões de juízes togados que
são sem misericórdia nas sentenças que proferem.
Digo isto porque toda inveja carrega uma carga homicida, posto que o
invejoso quer o lugar do outro, o que é do outro, ou até ser o outro
-ora, tudo isso implica em que o outro deixe de ser ou que então
mergulhe no vazio: "Raca!"
Quem diz que crê na Graça mas anda conforme a sua justiça própria ou
conforme a fé nos seus próprios processos de "santidade" pessoal e
meritória, não pode estar na Graça, posto que na Graça a única justiça
que decorre como válida diante de Deus é a que procede da fé, e não do
homem e suas virtudes pessoais.
Ora, todo aquele que ao ver Deus ser gracioso e exagerado em Seu amor
para com outro ser humano, ao invés de se alegrar, se ira e discorda de
Deus, e odeia o que recebeu a dádiva e a ele se compara, e julga Deus
injusto por havê-los igualado - este jamais conheceu a Graça de Deus,
posto que a primeira coisa que um ser humano que encontrou Graça, de
fato, descobre, é a sua total condição de desgraçado em-si-mesmo.
"Desventurado homem que sou!" - grita ele. Portanto, ele jamais verá
injustiça na Graça de Deus, pois ele mesmo se considera o maior
beneficiado por tamanha santa injustiça que justifica injustos pela
justiça de um único justo, de tal modo que o injusto se torna justo -
não porque tenha feito qualquer coisa que assim o tornasse justo, mas
apenas porque creu que a justiça do Único justo pode ser a justiça de
nós todos. E ele se alegra que assim seja; do contrário, ele sabe que
estaria perdido. Ele sabe que isso é loucura para a consciência humana
cheia de autojustificação, e sabe que é total escândalo para aqueles que
crêem que são justos em-si-mesmos. Ele mesmo, porém, a ninguém julga,
exceto a si mesmo, pois se julgar a alguém, na mesma hora a si mesmo se
condena.
Assim, somente a Graça limpa o olhar. Mas é também por ela que se fica
conhecendo a mais dissimulada forma de maldade e perversidade, que é
aquela que se faz passar por virtude e justiça própria e que é incapaz
de celebrar a Graça de Deus, pois, para tais pessoas, tudo o mais que
não decorre do mérito próprio é injustiça. E como Deus é o Deus de toda
Graça, e como Graça é, essencialmente, favor imerecido, então, para tais
pessoas - mesmo quando falam acerca da palavra "Graça" -, a Graça de
Deus é injustiça contra elas, posto que só beneficia a quem não merece,
isso porque elas mesmas, lá no fundo, ficaram tão empedradas e
insensíveis que crêem que Deus lhes deve alguma coisa, especialmente no
caso de Ele querer exagerar em Sua bondade para com algum vagabundo da
Terra.
Mas Deus lhes pergunta: "Ou são maus os vossos olhos porque Eu sou Bom?"
Cuidado para que você não odeie Deus, o "dono da vinha", pela Sua
soberania de ser bom para quem desejar e como bem entender, dando a
qualquer um o que é Dele, e não devendo explicações a ninguém por assim
fazer com o que é Dele.
Isso tornaria você um perverso aos olhos de Deus. Salve-se desse
terrível mal. Ame a bondade de Deus.

Caio Fábio

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Uma narrativa e um narrador

Se é para os cristãos redescobrirem sua identidade única e falarem uma linguagem que tenha a capacidade de transformar Babel, devem estar fundamentados naquilo
que
Mortimer Arias chama de "a lembrança subversiva de Jesus". Jesus é o coração da fé cristã e por isso a narrativa de Jesus deve estar no centro da proclamação cristã.
Jesus representou o ponto alto de uma tradição profética, e foi mestre em usar a linguagem de modos inovadores. Ele era mestre em contar histórias, e a igreja deve
observar o exemplo deixado por ele.
Jesus narrava constantemente a história de Israel; ele trazia à memória do povo de Deus a sua história, e ao contar essa história capacitava o povo a participar
ativamente de sua própria história. Ele recontava a história de Israel de modo a demolir as visões de mundo de seus ouvintes e remoldá-las ao redor de si mesmo.
Jesus tinha pouco interesse em expressar verdades eternas, mas contava histórias subversivas que exigiam ação imediata.
Porém, embora usasse uma linguagem que suas audiências tomariam por familiar, Jesus imprimia às palavras um novo sentido. Ele falava do perdão dos pecados, da vinda

do reino de Deus e da volta de Iavé a Sião, mas proclamava que esses eventos estavam ocorrendo de modos inesperados. Ele narrava "histórias estranhamente familiares,

mas com a lição de moral invertida". Sendo assim, ele tomou os símbolos centrais da identidade judaica (a terra, a família, a Lei e o Templo) e submeteu-os a uma

reformulação radical.
Por essa razão, as histórias e parábolas de Jesus só podem ser entendidas à luz do modo como ele vivia. Separada das suas atitudes, a mensagem de Jesus é incompreensível,

aparentando ser um completo contra-senso. Jesus aceitou a afirmação de seus discípulos de que era o messias, mas imediatamente a seguir passou a falar de sofrimento,

revelando um novo modo de se ser o messias. Jesus afirma que o reino de Deus é chegado, mas revela que ele veio para os pobres e marginalizados. São as curas e
os
episódios de mesa comunal que interpretam o que Jesus quer dizer quando fala da chegada radical do reino. São os atos de Jesus que confirmam e sinalizam a realidade

de suas palavras. A existência inteira de Jesus está mesclada a essa proclamação; seu ensino não pode ser separado de suas ações.
Ao contar histórias subversivas e anunciar o perdão dos pecados, Jesus atrai inevitavelmente a ira das autoridades religiosas e estatais contra ele. Elas tem consciência

de que se sua proclamação e modo de vida receberem continuidade, não apenas causarão a reforma do sistema, mas terminarão por invalidar o sistema como um todo.
Jesus
não apenas questiona os que controlam a moralidade, ele desafia as realidades econômico-políticas que jazem por trás da moralidade. Essencialmente, a mensagem de

Jesus abolia tudo que justificava as desigualdades políticas e econômicas. Não é de admirar que ele falasse em parábolas e viajasse com tanta frequência; se tivesse

falado claramente e permanecido dentro de Jerusalém, teria sido eliminado muito antes de formar uma comunidade ao redor de si.
Se deve seguir os passos de Jesus, a igreja deve estar firmemente enraizada nas histórias do evangelho e na narrativa mais ampla das interações de Deus com seu
povo
e com o mundo. A igreja deve proclamar a narrativa de Deus. Se vai chegar a conhecer sua verdadeira identidade, deve lembrar-se de onde veio. Isso quer dizer que

os cristãos que fazem parte de igrejas comprometidas com a Cristandade formal ou com Babel devem aprender a contar a narrativa cristã de um modo que se mostre subversivo

e incômodo, principalmente e em primeiro lugar, para o próprio povo de Deus. Da mesma forma que Jesus investiu contra marcas da identidade judaica como o sábado,

as leis alimentares, a circuncisão e o dízimo, os cristãos dos nossos dias que são seguidores de Jesus devem aprender a atacar os emblemas de identidade que definem

as igrejas ocidentais. Num mundo em que o mercado sequestrou os símbolos do cristianismo, a igreja deve descobrir maneiras de recapturar o poder de suas imagens.
Tony Campolo é exemplo de uma voz que tem tentado realizar isso. Num discurso frequentemente citado, Campolo fala sobre pobreza e em seguida lamenta o fato de que

os cristãos "não façam merda nenhuma para mudar isso". Ele prossegue explicando que o que o deixa realmente chateado é o fato de que a maior parte dos cristãos
fica
mais furiosa por ele ter dito "merda" do que diante de tudo que ele disse sobre pobreza. Campolo subverte aqui um dos emblemas da identidade cristã contemporânea

(a convenção de não dizer palavrões) e conclama as igrejas ocidentais a voltarem a uma compreensão da fé fundamentada no evangelho.
Se tem esperança de engajar-se de modo missional com o mundo, a igreja deve contar a história de Jesus e deve encarnar a história de Jesus. Deve recordar a narrativa
de Jesus de modo a ser mais uma vez capacitada a viver dentro dela.

Daniel Oudshoorn

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