08 agosto 2010

Para os Pais

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus próprios
filhos. É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores
tagarelas e pássaros estabanados. Crescem sem pedir licença à vida.
Crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada
arrogância. Mas não crescem todos os dias de igual maneira. Crescem de
repente.
Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal
maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela
criatura. Onde é que andou crescendo aquela danadinha que você não
percebeu? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de
aniversário com palhaços e o primeiro uniforme do Maternal?
A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e
desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca,
esperando que ela não apenas cresça, mas apareça! Ali estão muitos
pais ao volante, esperando que eles saiam esfuziantes sobre patins e
cabelos longos,soltos. Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas,
lá estão nossos filhos com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas
da moda nos ombros. Ali estamos, com os cabelos esbranquiçados. Esses
são os filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos
ventos, das colheitas,das notícias, e da ditadura das horas. E eles
crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e
erros. Principalmente com os erros que esperamos que não repitam.
Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos próprios
filhos. Não mais os pegaremos nas portas das discotecas e das festas.
Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judô.
Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias
vidas. Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para ouvir sua
alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os
adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, pôsteres,
agendas coloridas e discos ensurdecedores. Não os levamos
suficientemente ao Playcenter, ao Shopping, não lhes demos suficientes
hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas que
gostaríamos de ter comprado. Eles cresceram sem que esgotássemos neles
todo o nosso afeto.
No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos,
bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscina e amiguinhos.
Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos
de chicletes e cantorias sem fim. Depois chegou o tempo em que viajar
com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível
deixar a turma e os primeiros namorados.
Os pais ficaram exilados dos filhos. Tinham a solidão que sempre
desejaram, mas, de repente, morriam de saudades daquelas "pestes". Chega
o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo e orando muito
(nessa hora, se a gente tinha desaprendido, reaprende a orar) para que
eles acertem nas escolhas em busca de felicidade.
E que a conquistem do modo mais completo possível.
O jeito é esperar: qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do
carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos
e que não pode morrer conosco. Por isso os avós são tão desmesurados e
distribuem tão incontrolável carinho. Os netos são a última
oportunidade de reeditar o nosso afeto. Por isso é necessário fazer
alguma coisa a mais, antes que eles cresçam.
Aprendemos a ser filhos depois que somos pais. Só aprendemos a ser pais
depois que somos avós...

Uma homenagem do "Mel e Gafanhotos" a todos aqueles que têm, ou já
tiveram, o privilégio de cuidar de uma vida.
Feliz dia dos pais !!

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